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Panorama


No ano seguinte à criação de “O Município” é fundada a “Associação Dramática Recreativa e Beneficente de Porto Velho” que passaria a chamar-se “Clube Internacional” (1919), em virtude do grande número de estrangeiros afiliados, preponderando em suas atividades o apreço pela música e pela representação. Em 1922 é criada outra associação que se transformaria mais tarde em “Sindicato de Artistas e Operários”. Por esse tempo, já existiam as bandas instrumentais (SILVA, 1991), cujas apresentações alcançariam senso competitivo e tradição. Algumas representavam agremiações escolares; outras, os seus municípios, a exemplo da Orquestra Filarmônica de Vilhena (2001) e da Banda de Música Municipal de Porto Velho (1984), criada pelo, então prefeito, Sebastião Valadares. Entre as mais tradicionais está a Banda de Música da Guarda Territorial (1944), criada por iniciativa de Aluísio Ferreira e absorvida mais tarde pela Polícia Militar. Outras manifestações com foros de tradição são a Festa do Boi, a Festa das Pastorinhas e a Festa do Divino, realizada pelo desde 1899 em Porto Velho, Pimenteiras e Rolim de Moura. Estes festejos podem ser encontrados nas várias regiões do estado, inclusive na forma de festivais folclóricos.

É possível dizer que a produção cultural intensifica-se diante do impacto social causado por dois fatores coetâneos: a construção da rodovia BR 364 e a estruturação do sistema educacional, que serve tanto para aparelhar o estado, como para sedimentar hábitos e costumes dispersos. A partir desse marco é publicada razoável quantidade de obras em prosa de ficção, relatos, poesia e ensaio sobre a geografia e história de Rondônia. Nesta última categoria merece destaque, entre outros, o amazonense Abnael Machado de Lima (1932), sociólogo e geógrafo, fundador da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico e do Museu Rondon. É autor dos livros didáticos Terras de Rondônia (1969), Formação Histórica e Geográfica de Rondônia e Guaporelândia, além dos ensaios Achegas para a História da Educação em Rondônia e do Pequeno Ensaio sobre Lendas e Folclore de Rondônia. Outro historiador de importância é Amizael Gomes da Silva: professor e político, publicou entre outros Nos rastros dos pioneiros (1984); Da Chibata ao Inferno (2001); Conhecer Rondônia (1997); Amazônia Sarará (1989), Amazônia Porto Velho (1991) e O Forte do Príncipe da Beira. Paulo Nunes Leal que foi Militar e Governador de Rondônia entre 1958 e 1961 publicou O outro braço da cruz (1984) que faz referência à rodovia Brasília/Acre, cuja construção é reputada à ousadia do autor. A expressão que dá título ao livro é retirada de um diálogo narrado em moldes pitorescos ocorrido entre o então presidente da república Juscelino Kubitschek e o representante de Rondônia, que em reunião dos governadores da Região Norte, em Brasília, no dia 02 de Fevereiro de 1960, desafia o Presidente a construir a estrada, conforme expressão de Abnael Machado: “Presidente, o senhor já ligou Brasília à Belém e a Porto Alegre e a está ligando a Fortaleza, por que não completa o outro braço da cruz, construindo a rodovia Brasília/Acre?” Respondendo à incitação, o Presidente teria perguntado: "Uai, Paulo. E pode?". "Pode, Presidente!”, responde o governador, completando – “Mas é negócio para homem!", ao que o Presidente sentencia: "Então vai ser”. Em 04 de Julho de 1960, Juscelino Kubitschek, em ato simbólico, fez tombar em Vilhena a última árvore existente numa faixa de sessenta metros de largura e dois mil, setecentos e noventa e seis quilômetros de extensão, ligando Acre e Rondônia à Brasília e ao litoral.

Destaca-se também como historiadora a professora Yêda Pinheiro Borzacov, responsável pela criação do Centro de Documentação do Estado e pela organização dos museus da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (Porto Velho) e das Comunicações ‘Cândido Mariano da Silva Rondon’, em Ji-Paraná. É autora de diversos livros, dentre eles, Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: uma história em fotografias (2004), Rondônia Cabocla (2002), Aluízio Pinheiro Ferreira: Porto Velho – 100 anos de história de Rondônia, espaço, tempo e gente. Outros textos na área são: Caiari, lendas, proto-história e história (1986) e Rondônia: evolução histórica (1993), de Emanuel Pontes Pinto; Geografia de Rondônia: espaço & produção (2001) e História desenvolvimento e colonização do estado de Rondônia, de Ovídio Amélio de Oliveira; 20 Anos da nossa história, A História do Ministério Público de Rondônia, e A Mulher em Rondônia (2007), de Lúcio Albuquerque; Cinqüenta anos do Território Federal do Guaporé e Os desbravado­res, de Vitor Hugo; O Espaço da sociedade rondoniense: noções do meio natural ao meio geográfico (2002), organizado por Flávio Rodrigues Lima (1968); Cacoal, documento histórico-geográfico – colonização e desenvolvimento (1986), de Francisco G. Quiles; Pioneiros, ocupação humana e trajetória política de Rondônia e Síntese da formação histórica de rondônia, de Francisco dos Santos Matias (1951); Mata virgem: terra prostituta (2004), de Januário Amaral; Geografia médica ou da saúde: espaço e doença na Amazônia, de Carlos Alberto Paraguassu Chaves, A fronteira do Guaporé, de Carlos Santos; Chá das cinco na floresta (1998) – ensaio sobre as mulheres caribenhas que vieram para Porto Velho, de Nilza Menezes, Enganos da nossa história, de Antônio Cândido da Silva; Reminiscências, crônica histórica onde Ivanir Aguiar (1935) registra fatos ocorridos em Vilhena e o álbum histórico Rolim de Moura, seus pioneiros e desbravadores (1989), de João Batista Lopes (1933).

No que concerne à produção ficcional, as obras e autores analisados formam um conjunto heterogêneo, seja pela informação estética dos seus criadores, seja pela temática ou valor expressivo das obras oferecidas. Entre os temas, prevalece a lírica desbragada de tom amoroso, as notas de saudade da terra natal, os apelos pela natureza assolada, a morte e a própria poesia. Versos, enfim de pouca poesia e que raramente ultrapassam o caráter de expressão pessoal e subjetiva. Nesse sentido, tome-se como exemplo um livro recente, Morte Secreta, de Núbia Rodrigues, autora que constitui um dos verbetes do dicionário.[2]

Na expressão da poeta e historiadora Eunice Bueno[3], “Se delimitarmos em tempo e espaço a literatura” de Rondônia teremos, por certo, de voltar ao início da formação do território e da cidade de Porto Velho, lembrando fatos que hoje misturam história e folclore como “O porto do velho ou O velho do Porto Santo Antonio”, as narrativas com alusão à Estrada de Ferro ou recorrer à história, “desde o marco inicial dos trilhos da Ferrovia Madeira Mamoré em 1907, a criação do termo judiciá­rio em 1913,” e a instalação da sede do município em 1915. Estes eventos motivaram os primeiros registros históricos, os relatos sobre a fauna e a flora e apontamentos sobre aspectos geográficos, que ao se constituírem em fundamento de cultura, passam a dar substância à imaginação criativa. Para se compreender melhor os primórdios dessa história há que se estudar os documentos produzidos por religiosos, ainda no século XVII, e preservados nos bispados de Porto Velho e Guajará-Mirim, segundo informação pessoal do sociólogo Dorosnil Alves Moreira. Também nesse sentido, Eunice Bueno afirma haver “preciosidades literárias ... deixadas pelos jesuítas” (relatórios, cartas e comunicações), bem como pelo sertanista Marechal Cândido Mariano da Silva Ron­don, cujos apontamentos “são considerados obras primas pela forma ... notável e empolgante” das suas descrições.

Desconsideradas as publicações em inglês, feitas por funcionários da Ferrovia Madeira-Mamoré, tem sido costume apontar Vespasiano Ramos (13/08/1884 – 26/12/1916) como precursor ou fundador da literatura de Rondônia, fixando-se, em 1916, o seu marco inicial. Tudo porque, em dezembro daquele ano, chega Porto Velho pretendendo atingir um certo seringal Canadá[4] e trazendo na bagagem o livro “Cousa Alguma” (1916)[5]. Sem nenhuma ligação com Rondônia, este livro e mais alguns versos do autor, distribuídos a poucos e seletíssimos porto-velhenses, parece terem se constituído em evento literário ou social importante, a ponto de serem considerados por muitos, o marco inicial dessa literatura. Além de historiadores, assim fizeram parecer o manifesto da Secretaria de Estado da Cultura e os festejos por ocasião do centenário do nascimento do poeta simbolista, em 1984. Autor sem grande expressão, Vespasiano tem merecido várias “pátrias” e nenhum lugar na literatura. É cultuado em Rondônia, no Pará[6] e no Maranhão, especialmente em Caxias, também a terra natal do autor de I-Juca-Pirama. Patrono de Cadeira nas academias de letras dos três estados, sua vinda para Rondônia é um caso fortuito. Veio ao encontro do jornalista João Alfredo de Mendonça, seu amigo, após viagem frustrada ai seringal de outro amigo, Aureliano Borges do Carmo, a quem dedicara a única obra. Sofrendo de tuberculose, e tendo contraído malária, morreu em Porto Velho poucos dias após a chegada. Outro poeta tomado como precursor é Alkindar Brasil de Arouca, amazonense de Borba que viveu em Guajará-Mirim. Foi homem público, jornalista e poeta renomado pelos trabalhos publicados nos jornais locais. Ao contrário de Vespasiano, é possível encontrar em seus textos (dispersos) alguma nuance, ainda que difusa, das cores locais. Poeta inspirado, mas em descompasso com o que se poderia esperar de um literato do seu tempo, não produziu obra – e possivelmente não tenha intencionado isso – que pudesse assegurar-lhe uma posição e influência na origem da literatura local. Apesar de serem tomados como precursores, não há indicação de que suas obras tenham promovido o necessário condicionamento literário, suscitando ou favorecendo o aparecimento de novos fatos literários. Não há também qualquer estudo sobre elas, seja para atestar-lhes valor, seja para consagrar-lhes a efetiva gênese da literatura rondoniense.

Ainda segundo Eunice Bueno, deve-se falar em manifestações literárias propriamente rondonienses, apenas a partir de 1981, observando “que até então, um reduzido número de obras haviam sido publicadas”[7]: Os desbravado­res (1959), de Vitor Hugo; Risos e prantos (1978), de José Monteiro[8], Tudo X caçarola (1980), de José da Penha e a Antologia de poetas e escritores de Rondônia, publicada pela seção local da União Brasileira de Escritores. Entre os autores que então se apresentam, estão Bolívar Marcelino (1932), Ma­tias Mendes (1949)[9], Gesson Magalhães[10] (1943) e Joaquim Cercino (1940), cujas obras estão marcadas por certo saudosismo, pela poesia de cunho sentimental e pelas formas tradicionais como o soneto. Também apegados à tradição, mas abertos a novos ares são Antônio Cândido (1941)[11] e Sérgio Ricardo. Menos afeitos à tradição e ao passadismo são Kléon Maryan, José Calixto de Medeiros[12] (1926), Viriato Moura[13], Aparício Carvalho[14] e Deuta Silva Gomes (1959), cuja obra Relâmpagos de Emoções (1986) apresenta poemas prosaicos, cheios de emoções e pouca literatura.

Mais recentemente, outros autores vêm ocupando a cena literária. São eles: Binho, Bahia, Mado, Pilar de Zayas Bernanos, Roberto Sil­va, Edson Badra[15] (1934), Rodolfo Araújo, Carlos Reis, Daniel Martins, Elson Braga, Inês Cancelier, Gilberto Merlin, Wiliam Haverly Martins, Hélio Bastos, Hélio Costa, Marcos Casales, Laudicéa Santos, João Teixeira, Maurício de Almeida, Luiz Alfredo, Nercina de An­drade, Zeca Domingues, Osvaldo de Oliveira, Nonato Silva, Jaime Ferreira, Sebastião Correia, Rivero, Abel Neves, Paulo Kawanani, Beto Correia, Sandra Melo, Antonio Barros, Carlos Moreira, Gilson Monteiro e Nilza Menezes (1955), esta, uma das vozes mais expressivas desde 1980. Sua obra reflete a formação de um sujeito-lírico às voltas com os embates femininos no mundo, o que não se faz de maneira panfletária. A luta da mulher escritora surge e se revela no papel, como embate com as palavras e do “eu” contra ele mesmo, na difícil busca pela expressão. Escreveu poesia: (Poemas, 1973; Rascunhos, 1978; Presente,1987; Poções e magia,1985; A louca que caiu da lua, 1994; Princesas desencantadas, 1996; Fruta azeda com sal, 1997; Sina, 1999; Duas Palavras (em parceria com Carlos Moreira), 2000; Feitura, 2003) e ensaio: Chá das cinco na floresta (1998), Com feitiço e fetiche (1999), Rita Queirós: o gosto do aluá (1999), Memória judiciária: história do judiciário de Rondônia no século XX (1999) e Jorge Teixeira (2006).

Outros autores do período são João Thomaz Pereira, Alberto Lins Caldas, Lenine Sérgio de Moura, Cláudia Reis, Lúcia Rocha Fernandes, Zé da Zeca (José Leocárdio de Souza), José Valdir Pereira[16] (1952), Neusa dos Santos Tezzari, Zelite Andrade Carneiro, Nilson Ferreira da Cruz, Roberto di Cássia e Átila Ybañez[17] (1957), cuja obra parece originar-se da comoção sincera, embora conserva-se – de modo geral – uniforme, seja nos temas, na forma, ou na linguagem de função emotiva. É, contudo, personagem de significativa contribuição cultural, seja como membro da Academia de Letras de Rondônia, seja como fundador da Academia Vilhenense de Letras, da qual é entusiasta. Escreveu, entre outros, Pedaços imaginários (1982), Vidas fragmentadas (1983), Ciclone de Emoções (1985), Ainda existe amor (1986), Poemas Despidos (1994) e Uma parte de mim (1991). Cite-se ainda Vilmar de Melo Xavier[18] conhecido como o poeta andarilho, pela forma como divulga e comercializa seus livros. Cantando o amor, a natureza e o cotidiano, sua obra é marcada pela função emotiva da linguagem que parece intensificar a sugestão de que os textos são escritos ao sabor e no calor dos acontecimentos.

Eunice Bueno (1948) publicou Garatuja em 1983, Arco íris em 1990; Clecs e outras inspirações (1989), Sinfonia ou Sonhos e Suspiros (1989), Poesias ou versejando sonhos (1989), As conchas se abrem (1990), O poema me chama, Poemando, Folhetins poéticos (1988-1989), Flauta doce – infanto-juvenil (1997), Inspiração (1998), Quadrante (1992), Asas (1999); Ópera (1999) e Tear arte – visual (1999). Dedicou-se também à história literária em Síntese da literatura de Rondônia (1984) e Bolívar Marcelino: 10 anos de poesia como arte – ensaio (1996)[19].

Eduardo Martins (1962)[20] é professor de Literatura Brasileira na universidade Federal de Rondônia e foi, nos anos de 1980, um dos atores mais importantes na cena literária do Recife. Nos anos 90, já era reconhecido no meio literário rondoniense, seja como crítico e ensaísta, seja como poeta. Elogiado por escritores como César Leal, Alberto da Cunha Melo, Marcos Cammarotti e Aguinaldo Gonçalves, publicou, entre outros: Restos do Fim (1981) Eczema no Lírico (1985) Procissão da Palavra (1986) O lado aberto (2004) e A palavra falta (2007). No gênero ensaio, destacam-se Bandeira: uma poética de múltiplos espaços (2003) e Cida Pedrosa, a poesia que se vê. Embora atenta aos influxos da atualidade, sua poesia tem o lastro da tradição e da lírica mais elevada em língua portuguesa. Seja no tom de Fernando Pessoa, na voz de um Alberto Caeiro, seja nas imagens e nas cores de um Carlos Pena Filho, seja no melhor momento da projeção universal de João Cabral de Melo Neto, o Cabral de O Engenheiro, Psicologia da Composição e O Cão sem plumas.

Lucineide Monteiro e Ronildo do Nascimento publicaram Poetas do Universando (2001), reunião de poemas recolhidos do jornal homônimo que circulara na Universidade Federal de Rondônia. Trata-se de livro heterogêneo que reúne tanto autores experientes como jovens iniciantes, cujas obras vão das dúvidas existenciais às dores de amor, da preocupação com o ato da criação à poesia social.

No que diz respeito à Literatura popular, na forma do Cordel, merecem nota Pedro Albino, Ismael Correia do Monte (Estrada de Ferro Madeira-Mamoré); Jota Fortunato (Sansão e Dalila), Bentinho (MÃE) e Maria das Graças Nascimento, com Constituição, Constituinte e O Estado de Rondônia. Na prosa de ficção destacam-se Silvio Rodrigues Persivo Cunha, Ary Tupinambá Pena Pinheiro, José Monteiro, Esron Penha de Meneses e Confúcio Moura (1948). Confúcio é médico e político, e, sem outras experiências como escritor, narrou parte da história da ocupação de Rondônia em A Flecha (romance), cujo enredo se desenvolve em torno da família de Chico Neco dizimada por índios Uru-Eu-Wau-Wau. Embora dúbio pela indecisão semiológica entre narrar a história ou fazer ficção, o livro acaba por fornecer dados históricos importantes da região de Ariquemes.

No teatro, as principais manifestações estão distribuídas basicamente nas cidades ao longo da BR 364, com certa concentração em Ji-Paraná e Porto Velho, esta com cerca de dez grupos atuantes, entre eles, o Clube Teatro Êxodo que encena anualmente (em consórcio com outras companhias), na cidade cinematográfica Jerusalém da Amazônia, o espetáculo O homem de Nazaré. Outros grupos importantes são, Abstratus, Diz Farça, Poranga, Nada contra e o Raízes do Porto, dirigido por Suely Rodrigues. Destaca-se também na capital o CTB – Centro de Teatro de Bonecos.

Em Ji-Paraná, onde o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Diversões realiza anualmente o Festival de Teatro Coração de Rondônia, tem sido destaque, entre outros, o grupo GTED – Sombras do Gueto e o Grupo Arterial, dirigido por Firminetto Mendes. De Vilhena, são os grupos Grupo 1+1 & Cia dirigido por Brás Dy Vinuuh, os grupos The Crazy e Maná voltados para a temática religiosas e o Grupo Wankabuki da Universidade Federal de Rondônia. Outros grupos de Rondônia são: Oficina, de Pimenta Bueno; Risoterapia, de Cacoal; Los Helocêntricos, de Buritis e PETI da cidade de Cacaulândia.

No que diz respeito às origens ou à cultura tradicional há que se registrar a forte influência da cultura indígena. Dentre os principais povos estão os Karitiana e os Uru-Eu-Wau-Wau, estes da família Tupi-Guarani, grupo Tupi-Kawahib. Contatados inicialmente na década de 40, só cederam aos contatos amigáveis na década de 80. A população reduzida hoje a pouco mais de 60 pessoas, contava a época com cerca de 800 membros. Os Uru-Eu-Wau-Wau usam como vestes apenas um cinturão largo de cipó. Da sua cultura chamam a atenção as pinturas corporais e faciais, a dança, as manifestações musicais, o artesanato e os elaborados adereços usados por toda a gente da cidade. Já os Karitiana, com uma população de cerca de 300 pessoas. Contatados no final do século XVII, esse povo de língua Tupi/Arikém (única remanescente da família lingüística Arikém) perdeu território e dissolveu costumes a partir do início do século XX, com o avanço dos seringueiros na região. Da cultura dos Karitiana chamam a atenção as elaboradas pinturas corporais e faciais, a dança, o artesanato, as manifestações musicais. Há também os Jabuti, os Suruí e os Tupari, cujas narrativas e mitos foram registrados por Betty Mindlin[21].

Entre os ribeirinhos e outros habitantes das florestas é rico o acervo de literatura oral e popular, principalmente aquelas histórias contadas por habitantes das regiões dos rios Madeira e Amazonas. Dessas histórias, algumas foram recolhidas por Lucileyde Feitosa e estão sendo recontadas por Osvaldo Duarte, que também recolheu contos, peças folclóricas, adivinhas e ditados. Algumas dessas peças, reelaboradas por Ricardo Azevedo, foram publicadas em Cultura da Terra[22].

A análise da produção literária realizada em Rondônia mostra, quando se trata dos autores mais antigos, uma incipiente e às vezes ingênua visão do ofício literário, de maneira que em nada se parece ou mesmo a aproxima daqueles autores ou literatura já inseridos no sistema literário nacional. Não há nela também traços de uma cultura regional, mesmo porque esses traços inexistiam, visto ter sido produzida num contexto de intensa migração. Embora se trate de uma literatura citadina, é ao mesmo tempo provinciana; urbana e culta, mas periférica, se considerada ao lado da literatura nacional. Constata-se nela do ponto de vista formal acentuada preocupação emotiva em detrimento das causas e estruturas estéticas. Cultivada por médicos, jornalistas, engenheiros, homens públicos e educadores que de um modo ou de outro se ocupavam de constituir um universo cultural que os ambientasse e fortalecesse neles o sentimento de humanidade e de cultura. Sem contribuição efetiva para a arte, formaram, entretanto, leitores e deixaram herdeiros em Porto Velho: alguns, presos ao saudosimo de uma Rondônia edênica ou de uma história que seria melhor contada por “estrangeiros” como Manoel Rodrigues Ferreira. Outros, tentando despregarem-se do passado, pois capazes de uma voz menos pragmática e às vezes mais original, vão tentando encontrar, às voltas dos mitos da floresta e dos arredores do Madeira, os motivos artísticos, os traços, as cores locais. Ao lado dessa produção, sempre houve uma literatura oral recheada de casos folclóricos, contos de assombração e mitos. Cultivada pelas populações mais antigas, mantém-se viva, principalmente nas áreas ribeirinhas, com algumas interferências e recriações de mitos indígenas, variações de história trazidas pelos migrantes das diversas regiões do país e, em alguns casos, criações ou recriações originais do povo da terra. Na produção dos últimos anos é possível perceber uma tendência nova, mais informada estética e literariamente e, de certo modo, mais coesa e organizada, mesmo que não se constitua ainda num sistema ou apresente lastro para ser absorvida, com raríssimas exceções, pelo sistema literário mais abrangente. São essas raríssimas exceções e seu intento implícito de inserção no sistema literário nacional que torna aceitável e mesmo desejável um olhar distinto sobre ela, pois tratam-se de vozes que esboçam um olhar e um discurso ao mesmo tempo local e universal. Entre eles, cite-se Eduardo Martins e Alberto Lins Caldas, exemplos acabados de autonomia discursiva.

 


[1] Documento produzido no contexto do projeto Mapa Cultural de Rondônia. In. DUARTE, Osvaldo. Mapa Cultural de Rondônia: relatório técnico. Processo 481005/2004-8. CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Vilhena: Unir, 2007, p. 1-25.

[2] O teor do verbete, além de tipificar a produção literária de que trata esta parte do projeto Mapa Cultural de Rondônia, é demonstrar (com exemplo) o resultado deste projeto.

[3] Palestra proferida aos Oficiais e Praças da Aeronáutica no auditório da Base Aérea de Porto Velho-RO, em 05/05/89. Publicada posteriormente no opúsculo Visão geral da literatura de Rondônia. Porto Velho: Academia Rondoniense de Educação, maio, 1989.

[4] Há divergência quanto ao nome da propriedade de Aureliano Borges do Carmo. Há quem afirme chamar-se Canaã. Há, contudo, na região, registro de um seringal com aquele nome.

[5] Obra reeditada pelo Conselho Estadual de Cultura/SECET. 3 ed. Porto Velho: 1984.

[6] Conforme Viriato Moura (Questões da Literatura de Rondônia, 1992) Vespasiano vivera em Belém e em Manaus, tendo publicado nos jornais Folha do Norte (1905-1915) e A Gazeta (1992), respectivamente. Essa vivência pode ter dado ao poeta a matéria para os poemas de temática amazônica.

[7] Além do “reduzido número de obras” como registra a pesquisadora, é importante registrar que boa parte delas pertence a outros gêneros que não literatura. Entre aquelas que pretendem ser literatura, falta à maioria a necessária elaboração estética.

[8] Poeta e ensaísta, José Monteiro (de Souza) publicou também Capítulos Marcantes de um Leprosário (1980), trabalho sobre a colônia de hansenianos Aben-Athar, Falando ao Coração (1982) e Folclore de Porto Velho.

[9] Escreveu, poesia: As emoções e o agreste (1982), As musas e o perfil (1982), As quimeras e o destino (1983), Eflúvios da descrença (1985), A lira do crepúsculo (2007) e ensaio: Apologia da negritude (1999), As Malvinas do Jamari (1983), Síntese da literatura de Rondônia (1984) e Lendas do Guaporé (2007)

[10] Publicou Adejos de Minh´alma (1983) e Alguma Causa (1984).

[11] Além de ensaio histórico, publicou poesia: Marcas do tempo (1986) e Madeira-Mamoré: o vagão dos esquecidos (1998), 2 ed., 2000.

[12] Escreveu poesia: Oração ao Sol (1981), Lâminas de Silêncio (1984), Sentinela da Estrada (1988) e narrativa Catedral do Tempo e Verde Vida (1988), crônica, e Tatiana (1990), contos.

[13] Poeta e ensaísta, publicou Questões da Literatura de Rondônia (1992).

[14] Médico e político, escreveu: Vivências Amazônicas, 3 ed., 1998, Beijo de Judas (2000) e Candelária: luz e sombra na trajetória da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

[15] Escreveu poesia: Sonhos prosaicos e poéticos (1987) e ensaio: Literatura de Rondônia (1987).

[16] Publicou Ensaio: Educação: análise e perspectivas (1985), Rondônia: de pedaço em pedaço (2006) e Do financiamento da educação no Brasil (2001) e poesia: Nascente (1982), Momentos (1983, e Em fragmentos (2002).

[17] Natural de Guajará-Mirim, RO, é ator, músico e poeta. Outras obras: Folhas que farfalham ao vento, Átila Canta e Conta Histórias - Livro e infantil” (2006).

[18] Natural de Cachoeira da Prata, MG (1963), publicou Um pedaço de mim (1998) Andorinhas o vôo à liberdade (2002), Terrorismo ismo da guerra (2002), Além do olhar (2004) e Por um mundo de poesia (2005).

[19] Como agitadora e divulgadora cultural Eunice Bueno (da Silva E Souza) publicou o opúsculo Visão Geral da Literatura de Rondônia (1984). Atuou na imprensa e organizou eventos. Publicou também os periódicos Folhetos Poéticos (mensal) entre 1988 e 1992 e a revista (anual) Poetas e Poemas. Outras publicações: Clecs e Outras Inspirações (1990), Arco-Iris (1990).

[20] José EDUARDO MARTINS de Barros Melo (Recife-PE, 14 de janeiro,1962) publicou também Batalha pelo Poema, em parceria de Francisco Espinhara e Pedro do Amaral e participou de várias antologias, entre as quais se destacam Poesia Viva do Recife (1996) Marginal Recife (2004)Pernambuco, terra da poesia (2006 ). Publicou também no Folheto NU. É Mestre em Teoria Literária e Literatura pela Universidade Estadual Paulista e conta como verbete no Dicionário de Literatura Brasileira de Afrânio Coutinho.

[21] Ver: Tapuris e Tarupás. São Paulo: Brasiliense/EDUSP/IAMÁ, 1993 e O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros. São Paulo: Casc & Naify, 2001.

[22] São Paulo: Fundação Cargil, 2003.